Tinha pés e nariz laranja. Grande, oval e fofo, nariz? Dali saía uma piteira que tecia, com a fumaça do cigarro, um cachecol ansioso e confuso procurando por um pescoço inexistente. Usava uma cartola e, no lugar de braços, algo como asas, pequenas e gorduchas asas. Todo ele pequeno, embora ocupasse muito espaço e, ciente disso, desafiava com os olhos que o contestassem. Amarelo, mas sem muita distinção de pelos ou penas. Mostrava uma inquietação de Eva antes de interpretar Annie e cantar Tomorrow. Perguntou:
- Quem é você?
- Nada além da mão que segura o lápis... e você, faz idéia de quem seja?
- Verdade... não tenho muita idéia... poderia me ajudar?
- O que EU poderia fazer?
- Diga! Quem sou eu?
Não poderia dizer. Era feito de inutilidades. A cartola que não poderia voltar à cabeça, caso caisse e aquele cigarro, que seria sempre o último... E tudo por causa dos braços feito asas... Ser perfeito, para os simpatizantes de ornitorrincos e da sofisticação do inusitado. Um traço da irreverência ranzinza da vida.
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