16 outubro, 2009

Com quantas palavras se diz a poesia de cada um? Sempre gritava, se anunciando, sendo o inesperado aguardado. Na outra noite foi assim, bebeu caipirinha, mas o aspartame que fez com que vomitasse. Podia aparecer agora. E como naquela manhã, subiu correndo e foi entrando, tão dono que era do mundo dela. Mas foi em silêncio que chegou e quando ela abriu a porta voltou a ser o mesmo. Trazia duas sacolas plásticas, cheias, estufadas de levezas, tornando engraçado o cuidado com que as segurava. foi bem no meio do quarto que despejou seu conteúdo, o que havia juntado pelo caminho. Se desenharam ali as tardes de outubro que ainda, e depois de tanto tempo, se fantasiavam de maio, como a saudade de chegar e partir. Em todas as suas ruas crasciam as patas de vaca. E aquelas vagens traziam aos os pés a crocância de errar e tornavam familiares todas as paisagens que ainda seriam. Estavam em toda parte, menos ali, onde as buzinas e o tumulto haviam lhe aprisionado. Disse, a puxando pela mão: pra não esquecer que também é divertido. Lembraram do bom da rua, os pés. Poesia tem tanta finalidade e explicação quanto vida se fazendo. No falso chão, sem terra e sem raiz, a muda brotou.

11 outubro, 2009

E na verdade, se me calo é por não encontrar a palavra certa, que o é, tanto quanto a pessoa. Certo é o uso que se faz e em toda beleza inesperada escrevo seu nome e o cansaço dos seus olhos, fechando janela, recusando-se a ver em cores e sons o que era já sabido no subterrâneo, naquele fluxo que sempre seria, mar ou gota.

Indícios sintáticos do surgimento de um romance:
orações suspiro-exclamativas.

05 outubro, 2009

Tinha sinceras dúvidas quanto à eficácia da escrita. E de toda palavra. Mas sempre as usava, assim mesmo, na esperança de que alguma surgisse, clara e eficaz, organizando o sentido das coisas. E das coisas só se sabe o que delas causa encanto. Ou medo. E com tudo seria assim, a plenitude de um tédio descrente das novidades que sempre surgiriam, antigas em sua repetição e revelia. E o olhar estrábico, que se deixa levar por qualquer brilho, qualquer rastro luminoso em céu poluído, sente o peso de tempestade em deserto e recorda o apreço pelo que brota, como o girassol na beira de estrada, também na escrito daquele percurso. Sem perspectivas de sobrevivência e sem rumo, sem escolha, terreno ou momento. A duração de uma vontade de sol, mesmo em aconchego de terra e que rompe, como o sido, semente, terra e superfície, fissura e dá passagem. À escrita deve respeito quem a sabe tal qual essa vida, forte e determinada. O suficiente.
Começou a ver pelo desejo. A barba, um ar indiferente. O desejo dele. Enquanto fumavam a moça lhe disse: você é fácil. Aceitava vislumbrando verdade, fácil pra uns, difícil pra outros. O convívio é o que traz o pior de tudo. E onde mais estaria o melhor?

02 outubro, 2009

em direção a Hindiael
Apenas a ponta dos dedos na água, despertando o ser. Ao seu lado, o mergulho, de impulso, no antecipado da hora já que o acontecer só é no sido. Desde a estrada era aquele calçamento de pedras que o caminhar providenciou para que acontecesse a poesia com que as rodas do automóvel se atritavam.

Cores para noites sem lua