Finalmente segue a carta e, pra ser bem sincera, nem sei bem mais por quais meios. Tudo o que desejei lhe dizer com tudo, o isso, o que possuo da linguagem dos homens.
Muitas coisas nos aconteceram e o que se repete, em todas as novidades, é um carinho que nunca será esquecido, possível na certeza que temos de que fomos amados.
Suas notícias me encontram aqui, no lugar onde sou o meu próprio começo. Junto ao pai e ao meu irmão, ao mar e à mata. E é aqui, entre os cajueiros que me assento e lhe escrevo, mesmo sabendo que muitas luas ainda hão de se passar até que o último pedaço seu em mim possa ser nomeado.
E tenho tecido, como sempre. Agora em crochê, outra hora em tricô, e às vezes, umas marcas em ponto de cruz. E cartas. E assim, me irmano a tudo o que é por um fio, aos trabalhos que mesmo prontos permitem, aos que tem dos ofícios a ciência, o desmanchar e o refazer.
E deste lugar em que agora me sento, observo o mundo que me acolhe e vejo a beleza dos que tem asas. Lembra-se do beijo-flor? Ainda sinto queimar em minha pele os seus lábios sobre as penas. E muitos houveram, desde as codornas, a marreca Nina Hagen, os maracanãs, 2 irmãos, Jack e Cousteau. Cousteau se foi, Jack ficou. Como os canários e o que seria uma só surra e que foi a descoberta da liberdade e do que se entende por amor, já que o zoológico, a escola, o hospital e o sanatório eram sempre a decisão mais sensata. E para lá foram mandados. E, o maior visto e tocado, e livre!, como Jack e o Turu, foi o urubu. Lindo ele, todo de Dona Oxum! Mas isso foi lá, no depois, e se o futuro der tempo, em outra hora acontece de novo.
E nestes lugares em que me assento, recubro a beleza em cores e em canto. Essa é nossa espécie e ela se multiplica em todas as direções e eu ainda busco o nome que a diga, essa fluidez de não lembrar e não esquecer.
E desde que aqui cheguei, dispus ir ao seu encontro. E para lá sigo, todas as tardes. Mar, lua e sol. E o vento, gentil passante, que soprava-nos para que sendo obstáculos, fizéssemos a música, como dizia a placa que enlidecia a chata Antônio Carlos.
Penso em tecer uma cortina branca, cheia de insetos coloridos, mas branca.
Penso em uma cortina e me alegro. E como não me alegraria com o seu florescer? E todo o mundo, o meu e o seu, se tornaram maior por haver nele semente de que nasça o bem. Um filho seu! É importante não sentir vergonha da própria força, já nos diria o nosso master Yoda ;0) (heim? Vai ser bom!) E penso que, a isto, este pulsar, possa-se chamar amor, por ser o mesmo diante do que um dia seria uma rosa.
E quantas roseiras haviam naquele jardim, cultivadas pela mão dela? E era assim que descobria belezas nas paisagens em que me fiz. Todos os dias nos encontramos, estamos juntos, Lua, Mar, Terra, Sol e Chuva. Acontecemos, somos. E só por isso mudo. Parto de um Belo Horizonte rumo a um Salvador levando inconclusões, mas me sentindo plena, completa. Como o quebra-cabeça que deixei com o menino, o céu e seus mitos, 12 tipos de gentes num zoodiaco só. Tudo ali, só faltando montar. Uma viagem por fazer.
Muitas coisas me incomodam em você é uma delas é que permita a conclusão do seu amor. Nenhuma palavra tem um só sentido e em muitas direções vai esse movimento em que me lança a sua palavra. E em muitos aspectos, para o meu sentir, você foi indelicado e, por você, percebi as possibilidades da delicadeza de mim mesma. Dois outros homens foram encantadores depois de você e, convivendo com eles, identifico algumas de nossas distâncias. Uma vez me disseram que você era egoísta. Todo altruísta é. Toca Raul!!! ;0) O amor é. E eu nunca fiz questão nenhuma de mim, sou um por acaso, uma gratuidade. Egoísta e suicida. Amor, só se declara, depois de por ele se ter morrido.
E eu, nunca o quis. Não meu. Mas o quis ao meu lado. E sinto saudades daquele baile para o qual não o convidei. Desejei a sua presença. Caetano Veloso sempre dá um pitaco e me diz de nossos Quereres... E de encontro ao amor vai o desejo. Mas em que velocidade?
Não caibo em mim, mas me ajeito. Acomodo entre a luxúria e o dengo o meu conhecimento dos homens e, de cada encontro, não espero mais do que o meu próprio gozo.
Um pica-pau procura comida no tronco ao lado e eu também devo procurar com o que me alimentar. Salvador da Capoeira e do Candomblé. Porque Antes da escrita havia o corpo.
E todos os dias tenho vindo lhe dizer essas coisas e retomo a palavra que me lambe a nuca feito vento. Sei o seu lugar e o compreendo. Vibro! Sinto! Todos estão cheios de vírus e sou suscetível a eles. Eu não seria imune aos seus olhos e suas cebolas.
Descanso na força de meu irmão, o meu melhor contrário, ou isso mesmo. E o peço que permita que eu não sinta a raiva que ele sentiu. Tenho convivido em família e, conforme determina o sol e o cansaço, a roupa que meu corpo pede é o vento. E de cara, mostro o pior de mim. Muitos se apavoram e se afogam. Assim são os mares daqui. Me sinto tão antiga quanto este lugar e por isso é importante o retorno à concentração de tudo neste esvaziamento que é todo começo. O que temos de nós.
O esperava neste indefinido que sou, magenta? Ocre? Ceano é o começo de tudo. O que de mim acordou no que era você? (Grata FOREVER pelos Coen! ;0)) E as razões continuam a ultrapassar e de tudo penso no bom que é que exista você. Em florescer! E sobre o que considero ser um bom pai tenho ainda que refletir um pouco mais sobre os critérios, mas sei que você fará o seu melhor.
Desejo a presença de um homem que me apazigúe, mas hoje desejo apenas um homem. Água de barra seca e suas pepitas. Ouro e prata.
Alimento-me, como, e com os animais mostro quem sou e minha busca. E por isso recolho palavras na fumaça desses suspiros. Hoje, nossa hora deu ao céu cores e formas especiais. E as ondas, as ondas, as ondas...