31 maio, 2010

Tinha habilidade com o recombinamento das coisas, cores, peças, épocas, já que algumas vinham das avós e das tias, reconciliadas através das amigas que levavam a memória dos objetos que davam forma à fumaça do cigarro. Muito havia se passado desde o ultimo encontro. Se lembraria de um cachecol e do medo dos vampiros. Depois, vieram os colares e, em suas contas, os contos, desabafos dos amores que ouvia da avó e que minavam de seus olhos na tentava sorrir, pura sem-graceza. Sabíamos o que nos fazia diferentes e todos os encontros eram cheios de acontecimentos, desde o ferro e suas brasas alisando os lençóis e o plástico bolha da cortina sob a pia. E os brincos, nunca tirados desde que aqui cheguei. Houve também a irmã, a primeira filha que, segundo a mãe, era do pai. Um bom motivo para que todos eles fossem assim, crentes. E a cada enrugar, e a cada nova cicatriz, confirmava que é possível evitar acidentes. E do valioso da ultima rua e do cemitério. Pra poder namorar.
E me cumprindo, girando, sol, raio em um novo lugar. E se sou outra, guardo em mim o começo e o caminho percorrido, abraços e sorrisos, amigos e encontros. Alguns desencontros nos lembram de nos afinar com quem somos. Buscamos o outro porque sempre buscamos p nós mesmos e é sempre a mão do outro que nos tira de dentro de nós. E todo carinho dói por provocar uma reação. Nascidos em um dia branco e de chuva. Um dia de paz apesar dos conflitos. Dia de cães e de gatos, de sapos e de vivos, todos buscando alcatéia. Amo um homem que se deita ao meu lado e que é metade de mim. A outra metade. Um dia de sacrifícios em que evitei seus olhos, a fresta em que, distraída me vi e onde me prendi. E por isso lhe dei água e mangas e o afagava, me consolando por sua sorte, que não lamento, como não lamentarei a minha. Sempre comi a carne dos outros sem me sujar e hoje me visto de branco para ver em mim sangue e barro. E porque os vi vivos sei de sua morte, participo dela e os como, para que participem de minha vida. É preciso poder confiar na mão que segura o punhal. E eu, pequena e carente que sou, antes da confiança encontrei a força e a ambiciono. Mais que força, a força da doçura dos olhos em que me vi. A doçura das sementes e da vida, cultivada por sete anos, desde que se principie. De sete em sete. A doçura de se dar e ser para que a força de nosso mundo, tão antigo quanto o barro que tenho nas saias, continue sendo. Que haja em mim a doçura de um coração pulsando, com vida, a fonte de amor que se fez céu e mar, começo e mãe de tudo. Choro por gratidão e respeito pela vida de tudo o que sou feita e fluo, água salgada que sou e serei, mesmo quando doce em direção ao mar. A mar. Amar. Odoiá.

14 maio, 2010

tinha mesmo, em algumas Luas, esse ar Rainha de Copas. Pura Salomé.

01 maio, 2010

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Na dúvida, foi ao concerto. Venceu o pressentimento de que ele estaria lá e que ela o abraçaria, do mesmo modo com que seus olhos haviam se abraçado quando se cruzaram por aquele corredor. Também iria por saber que o encontro aconteceria na praça, ao público. E em todas as estações, é este o lugar dos livres, dos que dela não fazem distinta dama de palácios, alimentada por novelas e noticiários. Era daqueles que a tomavam nos braços, porque se outro nome pudesse lhe ser dado, seria Rita. E lhe fungariam o cangote, a possuindo pelo nariz. E quem, em nome de qualquer ciência ou crença poderia julgar o entender de outro homem? Nas praças, as pessoas não temem dizer ou pensar, principalmente quando há grama e fontes. E qual foi mesmo a reforma feita? Quanto custaria a cada um ser cidadão? Desde o primeiro passo dado adiante daquele lugar em que era, seria só mais um estranho num mundo de estranhos, todos iguais. Feitos nas trocas, te dou um pedaço de mim por um pouco de você. Muito pouco. Argentinos de diversas nacionalidades, e liberdades, como uma Cimara, tocavam em mim um acordeom de avó, músicas que embalaram os apocalipses de todas as mortes de quem viveu os anos 80. O mundo se acabaria na garganta de um berimbau. E agora, era o gemido de um celo, até então um violão de quadris mais largos que alargava a alma e se tornava, wikepedianamente, música, zelo, o mesmo, céu. E a língua que se estendia do acordeom lambia coxas e apertava a nuca, dizendo seu nome em esloveno, espanhol, esperanto, galego e na interlíngua com que se dizem o céu das bocas.

Cores para noites sem lua