Coração tem que ser grande.
Almas, fique com as enormes.
Mas é o Cérebro quem quer dominar o mundo.
Coração tem que ser grande.
Almas, fique com as enormes.
Mas é o Cérebro quem quer dominar o mundo.
As frutas apavoram quem muito de perto conviveu com elas. Conhecendo bem os morangos se sabe os desejos que despertam pelo nariz. Das ameixas, se sabe Insã e Xunim, trazidos pelos morcegos, e das goiabas, o que vive e se move por dentro. As jabuticabas trazem as longas esperas da vida e, as bananas, essas coisas corriqueiras do dia-a-dia que não pedem muita atenção. As maçãs e os figos, dependendo da terra, são miúdos e improváveis, como gosto do que não se pode ter. Os limoeiros são flores e um cheiro. E uma necessidade de espinhos pontiagudos. Amoras são tintas. E ainda me mancham corpo e papel. E por tanta intimidade o temor do gosto de todas elas. O arrebatamento, peixe fisgado de anzol. Um tempo de não saber ser só. Um gosto de infância.
E também creio, como creio que foram enviados para salvar o mundo, que os Beatles voltarão.
Em um transatlântico.
E se o mundo é feito de penas, existe em mim um céu de sanhaço e uma esperança salpicada de alegria e desejo de maracanã.
A vida é beija-flor.
Estava sentada em um ônibus. Oscilava entre a preguiça cansada de mais um dia e o desconforto da viagem. E ouvia a conversa mais próxima. As partes se colocavam a par de suas desventuras até que veio o desfecho: A minha irmã morreu, atropelada. Estava grávida de gêmeos.
Sou a sem cultura e linguagem e o pouco conhecimento que tenho do mundo não diz do que sinto e que mata e priva de ser um entre o tudo ao redor. E não é possível a entrega ao mundo onde todos são corcundas e em que as pernas dóem por não poder esticá-las.
Presenteada pelo céu e por tudo o que acima dele vive. Uma flor! Dada por mão azul. Uma flor pálida, exaurida, fatigada no ter se cumprido. E viu o amor por uma beleza de forma tão intensa que tudo em resto era tão somente a artificialidade. E é impossível não desejar o silêncio. Mas é bom brincar com as palavras.
E o calor que envolve traz a plenitude por desejar tanto. Pela visão involuntária de controle remoto foi dado o sabor. E o que se via com todos os sentidos era uma espuma lilás em meio à calda de cor do que é cristalino e com a fragrância deliciosa do ignorado.
Na verdade é só uma história. E história conta o só o que já foi. O que é, no agora e no ainda, é por conta e risco de quem pensa... Era uma menina confusa e atrapalhada em ser o esperado pela história, e que insistia em não ser o que nasceu para e que ainda não sabia. Era como as outras, e em muito, muito diferente delas. Não aprendeu no cotidiano das coisas, com bonecas e panelinhas. Aprendia em segredo de silêncio diante de espelhinhos gigantes, em que se via inteira e tão pequena e tão dentro, e dos outros, os de bolso, um pouco maiores e que mal comportavam o rosto e parte de seus cabelos. E com as músicas, quer eram as mesmas que todas gostavam, mas não chorava com nenhuma delas e nem de machucado. Chorava muito, mas era mais de raiva, de não saber como fazer as coisas, de não entender, de injustiça e de por ver novela também. Gostava muito de rir e de sentir preguiça, mesmo sabendo que era pecado. E desde o sempre existem meninos e meninas, mas só no depois é que foi inventado o que podiam e o que não podiam fazer. As meninas sempre foram a visão do que sempre dividiu. Achava esmalte feio, mas também achava bonito, principalmente quando ele, já se desfazendo, deixava à mostra a imperfeição e a matéria pura de que gente é feita. E poupava à agonia de ter que tomar decisão de destino para a mulher que se esgueirava com languidez longilínea de gato roendo as unhas. Bonitos eram os cabelos longos e lisos. Mas, para que assim fosse, deixavam o rastro de fedor da submissão só possível em homem que finge ser macaco para divertir platéia. Os cabelos eram o desafio, a constante necessidade de conversão. As roupas sobre a pele como se tivessem sido emprestadas ou dadas, pelo acaso. E, talvez por isso, um gosto tão maleável. E até no mesmo de todas as outras - a mesma saia azul de pregas e a blusa branca-, sabia que o igual de todo mundo não era feito para ela, não tinha as suas medidas. Temia a prisão e o sufocamento do seio, só submetido ao sutiã pelo pudor de uma blusa de uniforme transparente que não o podia ocultar de si mesma. Se sentia diante dos outros como o espantalho com aves sobre os ombros e se habituava, com a descoberta e a necessidade de aprender a manusear absorventes íntimos e o corpo com sua fluidez de gota em busca de mar -, a conter uma mulher e seus desejos. Havia aprendido pelas histórias que deveria se fingir de morta e esperar por beijo que a salvasse. Mas como, se ela queria era ir salvar o mundo também? Com os cacos de seus espelhinhos tecia tapete sobre as distâncias acidentadas que percorria descalça e fazia pontes. Havia um amor, o mesmo e que sempre a faziam ficar ao lado de alguns e a se deixar. E não era amor de figuração, desses que são guardados em álbuns de retratos e em películas, esgarçadas e finas, tão finas que nem se sabe bem se é lembrançae ou esquecimento. Amor de entrega, da compreensão e da aceitação. Amor que é passageiro, com brilho da surpresa de espera dos olhos com encontro de estrela cadente porque, no sempre, é muito para uma vida que é só isso. Era a intensidade marginal da mulher que torna seres reais entre beatas e fêmeas, Ariadnes e Iaiás.
Areia a exasperava. Tinha ódio de tirar os sapatos encardidos de poeira e uso e pisar chão
Eu, que falho até em respirar, não me habituo ao erro. Nego o erro e, ao negá-lo, me perco na impossibilidade do acerto. Me fiz nas mentiras, nos furtos e nos mortais pecados infantis. E será mesmo o pecado o primeiro entendimento da vida? Fato é: existo. E não se pode comer o fruto da árvore da vida.
Iniciei o outono em janeiro e arei minha cabeça. Colhi os cabelos para que nada houvesse, em maior profusão, do que o pensar, que haveria, por ser semente de plantio, de florescer.