Areia a exasperava. Tinha ódio de tirar os sapatos encardidos de poeira e uso e pisar chão em nudez. Os menores grãos e ciscos a despertavam, toda pés, se esfregando em si mesma, tentando se livrar do sentir. A dona da casa, entre a agressão e a ofensa: Repara não! Nem tive tempo de varrer a casa hoje... Sabe como é, né? Se desfazia em desculpas, justificando em distração e avoamento a delicadeza de sua pobreza, demais sensível, para qualquer gosto. Areia era o toque do indesejado, o incômodo indistinto entre o ruim e o bom. E em areia pisava para chegar ao mar. E lhe trazia as mensagens ilegíveis e das mais possíveis urgências e ansiosas, não de socorro ou salvação, mas do eco que lhes diga que o sacrifício das ilusões não é vão. Abrindo as garrafas voltava àquele cemitério, o que antecedeu todos os outros, em que ia de visita ao túmulo da tia suicida de uma prima esquisita e que a considerava como igual. Talvez adivinhando o que já sabia de viver e, que mesmo assim, achava tão bom que precisava de um pouco de morte. E abria os papeizinhos que encontrava sobre os túmulos como se seu nome ali estivesse e por ela chamasse. E lia e relia a sentença da repetição. E, por via das dúvidas, repetia. E voltava, e outros papéis abria na esperança de encontrar, gravada em tinta, a absolvição por ter comido maçã. E despojava a pretensão, se aceitava ar, espaço a ser vencido e em que se propagaria. Eco. E bebia das garrafas, grão a grão, todo um oceano.
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