30 dezembro, 2010

num ponto

na margem da amazonas, na direção da casa de um amigo, onde celebrariam qualquer um destes pretextos para ser junto. O problema das ocasiões de se compartilhar é a circunstância: preparada e ensaiada para que sejam, mais do que felizes, mágicas e com data e hora marcada. E louvores e louros às novelas, todas elas, pelas exclamações: só em novela mesmo...! A liquidez do olho refletindo, reflexiva, a deixa... Que se louve! E onde a mágica, nos objetos tornados amuletos, como um pequeno medidor de tempo azul, ou nas pessoas? Pessoas que os constroem, que os notam, que neles encontram alegrias e lembranças e as compartilham. São complicados os efeitos colaterais dos surtos de felicidade-coletiva-presenteira, embora em todo mal exista um bem. A crise de presentear é totalmente válida quando leva o individuo, por ela acometido, a presentear com presença, descobrindo um jeito de ser companhia pelos grandes desertos do mundo. Por sorte não se aventurariam mais em amigos secretos, todos já revelados. Amigos em si e em mi, vaga-lumes, que nem livros. E os presentes: a agenda, entre colagens e fotografias, pimentas e sonhos, a palavra virada em remédio; as três luzes de um anjo, farolescendo caminhos, oferecendo lume de cheiro e; outro anjo, filhote, trazendo família, vela, caixinhas de fósforo e a confirmação do amor nas coisas que se consomem. As unhas roídas e, ainda assim, a espera. Por conta desses presentes que o tempo todo acontece, essa certeza de tudo ser. Vinha com ar feliz, bermudas e camisa estampada, colorido em fundo azul. A boca aberta de um modo engraçado ficou sendo bonito. Olhando e sendo olhado, partilhou a sem graceza dos flagrados e parou, cantarolou alguma coisa encontrando direção e foi sentar ao seu lado. Uma pedrinha em sua orelha carregava um pouco de céu feito a camisa e, a joaninha mais próxima ensaiava já há tempos ensaiava vôos para céus mais azuis. O engraçado é que tem a estrutura, mas não tem o teto. Concordava e, se chovesse, se molhariam. Um céu de chuva, de muita chuva. Esperavam por alguma coisa, seria por isso? Hoje fez sol. 

06 novembro, 2010

Se sentava na muretinha, na beirada da rua para vê-lo passar. O moço bonito, de olhar emoldurado. Houve tempo em que só o que os separa era um corredor e duas portas, mas tantos eram os trânsitos em seus respectivos apartamentos e mundos que poucas vezes se cruzavam. No ponto de ônibus, na lavanderia, no laranja da blusa e dos sapatos. E que bom que exista céu, noite, lua e estrelas para que haja estimulo pra se vencer distâncias. A mesma percorrida pelo charuto cubano para ser degustado nos degraus da uma lavanderia, janela aberta pra música. E é pela janela que ele passa, ao longe, no rastro de qualquer instrumento desses de levar e trazer chão, em qualquer palavra. Em qualquer Terra que lhes fosse uma só, de onde olhariam o céu buscando sabe-se lá o quê e, por ser errante, se encontrando. Já disse a menina pensamenteira, distância no espaço qualquer bicho alado derrota, a distância no tempo é que para ficar desimpossível demora. Seguiam por ele.

11 setembro, 2010


E agora chego em ti, na metade de todo tempo, ao meio do dia, ao meio da noite, caindo no berreiro para que me acendam o aro da lua. Este de agora, abismo em que me lanço na inteireza de todo compartilhar, esse sopro de febre. Orbitamo-nos ao encontro da maciez de tudo que se chama Terra e o importante de ter na vida é saco de dormir, esse casulo nosso de colorir primavera. E sempre haverá aqueles que a escolha nomeiam engano mas, ali, naquele mar de Borges, espumava, saliva na língua da água com sede de terra, o dizer de tudo o que não é lembrado e nem esquecido.

01 agosto, 2010

Ele eram três. E isso faria dele um deus?  A sua incompletude? Ora havia o desejo a pulso, cheio de urgências e a rejeição a tudo que pudesse ser entendido como ternura. Ora havia a hesitação, o passo ébrio dos que conhecem muitos caminhos e chegam a um só lugar. No sempre, o vazio.

01 julho, 2010

Quente


Não era água, mas lava.

Pé-de-lima, Pé-de-limão

Pouco de nós tem se alcançado nessas nossas distâncias. Mas as pontas dos dedos tocaram os seus, feito os olhos, e me fizeram querer ser sua. Por ser.

18 junho, 2010

Mal encontrada a caneta e vem o desejo de escrever seu nome, e escreveria junto o meu, caso o soubesse. O que sei é da estatura, tão confortável à minha, dos olhos, por instantes, enquanto não é desviado o olhar e do movimento e de seu dono, conta preta e amarela. E gosto do bigode.

16 junho, 2010

Colar Elizabetano

Foi uma boa Cia. Usava o vestidinho xadrez, saído dos anos 20 de Bertolucci. Rodava. Tinha algo importante a dizer a si mesma, mas não lembrava o quê. Seria um nome? Ou olhos, ou mãos? Sabia que não escaparia ao desejo da morte dos outros porque, pouquíssimas, raras vezes desejou matar. Somente ao Pai. Dizem que Deus é o Pai. E não seria só por serem adultos que deixariam de ser crianças. Se enterneceu com o inusitado de outra pessoa puxar assunto. E se havia apanhando muito era pela preguiça de bater, de deixar a marca de quem era. Cicatrizes e remendos. E como haveria o vestido, sem cortes?

14 junho, 2010

pediu que lhe tirasse a foto. Aquele havia sido o dia escolhido por sua beleza e só nele poderia ser vista. Pediu-lhe porque haviam ficado junto às lentes os seus olhos, após aquelas palavras saídas do peito e ditas por boca de outro. Conhecia a própria imagem pelo tato e por isso lhe pediu os olhos emprestados.

13 junho, 2010

vastamento

um salão dessa vastidão de conter as imensidões das pequenices, retinas buscando estrelas. De uma luminosidade do respeito aos fotossensíveis e, embora nada se movesse, algo soprava. Um sussurro constante, repetindo, o que ainda restava por dizer. E atendendo ao chamado, eles surgiam e, tão rápido se vão quanto se demoram, sobre a cama, no banheiro, ao pé da cama, sobre a mesa. Espelhos? E em todos eles aquela timidez de dançarina de programa de auditório. Os mais ousados se lançam sobre os outros, ávidos. E aí, Maurice diria que o nome é Baudelaire e, em outra circunstância se sentariam lado a lado, e falariam sobre as personagens que nos envolviam por enquanto agonizo e lhe diria: somos perecíveis. E também ela se foi e, outra, ou outra, retorna. Em alguma página. Todos eles ali, naquele salão de silêncio sussurrante, mudos. Mudavam. Em busca de voz.

12 junho, 2010


insisto em acender um cigarro que me apagará, fora as tantas vezes em que o tenho que acender. Fogo de palha é assim. Do mesmo que fumava minha vó, frente à casa, quentando o sol, acendendo nele o seu pito. E dali em diante, via que hora dessa ela pousaria em si mesma, vinda das cores do horizonte, da luminosidade de um novo dia.

09 junho, 2010

Terra

Finalmente segue a carta e, pra ser bem sincera, nem sei bem mais por quais meios. Tudo o que desejei lhe dizer com tudo, o isso, o que possuo da linguagem dos homens.
Muitas coisas nos aconteceram e o que se repete, em todas as novidades, é um carinho que nunca será esquecido, possível na certeza que temos de que fomos amados.
Suas notícias me encontram aqui, no lugar onde sou o meu próprio começo. Junto ao pai e ao meu irmão, ao mar e à mata. E é aqui, entre os cajueiros que me assento e lhe escrevo, mesmo sabendo que muitas luas ainda hão de se passar até que o último pedaço seu em mim possa ser nomeado.
E tenho tecido, como sempre. Agora em crochê, outra hora em tricô, e às vezes, umas marcas em ponto de cruz. E cartas. E assim, me irmano a tudo o que é por um fio, aos trabalhos que mesmo prontos permitem, aos que tem dos ofícios a ciência, o desmanchar e o refazer.
E deste lugar em que agora me sento, observo o mundo que me acolhe e vejo a beleza dos que tem asas. Lembra-se do beijo-flor? Ainda sinto queimar em minha pele os seus lábios sobre as penas. E muitos houveram, desde as codornas, a marreca Nina Hagen, os maracanãs, 2 irmãos, Jack e Cousteau. Cousteau se foi, Jack ficou. Como os canários e o que seria uma só surra e que foi a descoberta da liberdade e do que se entende por amor, já que o zoológico, a escola, o hospital e o sanatório eram sempre a decisão mais sensata. E para lá foram mandados. E, o maior visto e tocado, e livre!, como Jack e o Turu, foi o urubu. Lindo ele, todo de Dona Oxum! Mas isso foi lá, no depois, e se o futuro der tempo, em outra hora acontece de novo.
E nestes lugares em que me assento, recubro a beleza em cores e em canto. Essa é nossa espécie e ela se multiplica em todas as direções e eu ainda busco o nome que a diga, essa fluidez de não lembrar e não esquecer.
E desde que aqui cheguei, dispus ir ao seu encontro. E para lá sigo, todas as tardes. Mar, lua e sol. E o vento, gentil passante, que soprava-nos para que sendo obstáculos, fizéssemos a música, como dizia a placa que enlidecia a chata Antônio Carlos.
Penso em tecer uma cortina branca, cheia de insetos coloridos, mas branca.
Penso em uma cortina e me alegro. E como não me alegraria com o seu florescer? E todo o mundo, o meu e o seu, se tornaram maior por haver nele semente de que nasça o bem. Um filho seu! É importante não sentir vergonha da própria força, já nos diria o nosso master Yoda ;0) (heim? Vai ser bom!) E penso que, a isto, este pulsar, possa-se chamar amor, por ser o mesmo diante do que um dia seria uma rosa.
E quantas roseiras haviam naquele jardim, cultivadas pela mão dela? E era assim que descobria belezas nas paisagens em que me fiz. Todos os dias nos encontramos, estamos juntos, Lua, Mar, Terra, Sol e Chuva. Acontecemos, somos. E só por isso mudo. Parto de um Belo Horizonte rumo a um Salvador levando inconclusões, mas me sentindo plena, completa. Como o quebra-cabeça que deixei com o menino, o céu e seus mitos, 12 tipos de gentes num zoodiaco só. Tudo ali, só faltando montar. Uma viagem por fazer.
Muitas coisas me incomodam em você é uma delas é que permita a conclusão do seu amor. Nenhuma palavra tem um só sentido e em muitas direções vai esse movimento em que me lança a sua palavra. E em muitos aspectos, para o meu sentir, você foi indelicado e, por você, percebi as possibilidades da delicadeza de mim mesma. Dois outros homens foram encantadores depois de você e, convivendo com eles, identifico algumas de nossas distâncias. Uma vez me disseram que você era egoísta. Todo altruísta é. Toca Raul!!! ;0) O amor é. E eu nunca fiz questão nenhuma de mim, sou um por acaso, uma gratuidade. Egoísta e suicida. Amor, só se declara, depois de por ele se ter morrido.
E eu, nunca o quis. Não meu. Mas o quis ao meu lado. E sinto saudades daquele baile para o qual não o convidei. Desejei a sua presença. Caetano Veloso sempre dá um pitaco e me diz de nossos Quereres... E de encontro ao amor vai o desejo. Mas em que velocidade?
Não caibo em mim, mas me ajeito. Acomodo entre a luxúria e o dengo o meu conhecimento dos homens e, de cada encontro, não espero mais do que o meu próprio gozo.
Um pica-pau procura comida no tronco ao lado e eu também devo procurar com o que me alimentar. Salvador da Capoeira e do Candomblé. Porque Antes da escrita havia o corpo.
E todos os dias tenho vindo lhe dizer essas coisas e retomo a palavra que me lambe a nuca feito vento. Sei o seu lugar e o compreendo. Vibro! Sinto! Todos estão cheios de vírus e sou suscetível a eles. Eu não seria imune aos seus olhos e suas cebolas.
Descanso na força de meu irmão, o meu melhor contrário, ou isso mesmo. E o peço que permita que eu não sinta a raiva que ele sentiu. Tenho convivido em família e, conforme determina o sol e o cansaço, a roupa que meu corpo pede é o vento. E de cara, mostro o pior de mim. Muitos se apavoram e se afogam. Assim são os mares daqui. Me sinto tão antiga quanto este lugar e por isso é importante o retorno à concentração de tudo neste esvaziamento que é todo começo. O que temos de nós.
O esperava neste indefinido que sou, magenta? Ocre? Ceano é o começo de tudo. O que de mim acordou no que era você? (Grata FOREVER pelos Coen! ;0)) E as razões continuam a ultrapassar e de tudo penso no bom que é que exista você. Em florescer! E sobre o que considero ser um bom pai tenho ainda que refletir um pouco mais sobre os critérios, mas sei que você fará o seu melhor.
Desejo a presença de um homem que me apazigúe, mas hoje desejo apenas um homem. Água de barra seca e suas pepitas. Ouro e prata.
Alimento-me, como, e com os animais mostro quem sou e minha busca. E por isso recolho palavras na fumaça desses suspiros. Hoje, nossa hora deu ao céu cores e formas especiais.  E as ondas, as ondas, as ondas...
Há uma palavra que quer escapar de mim . E ela se tranforma, coisa borboleta que é, cresce nas histórias do que cada coisa diz. E borboleta que é, levanta voo papel afora.

31 maio, 2010

Tinha habilidade com o recombinamento das coisas, cores, peças, épocas, já que algumas vinham das avós e das tias, reconciliadas através das amigas que levavam a memória dos objetos que davam forma à fumaça do cigarro. Muito havia se passado desde o ultimo encontro. Se lembraria de um cachecol e do medo dos vampiros. Depois, vieram os colares e, em suas contas, os contos, desabafos dos amores que ouvia da avó e que minavam de seus olhos na tentava sorrir, pura sem-graceza. Sabíamos o que nos fazia diferentes e todos os encontros eram cheios de acontecimentos, desde o ferro e suas brasas alisando os lençóis e o plástico bolha da cortina sob a pia. E os brincos, nunca tirados desde que aqui cheguei. Houve também a irmã, a primeira filha que, segundo a mãe, era do pai. Um bom motivo para que todos eles fossem assim, crentes. E a cada enrugar, e a cada nova cicatriz, confirmava que é possível evitar acidentes. E do valioso da ultima rua e do cemitério. Pra poder namorar.
E me cumprindo, girando, sol, raio em um novo lugar. E se sou outra, guardo em mim o começo e o caminho percorrido, abraços e sorrisos, amigos e encontros. Alguns desencontros nos lembram de nos afinar com quem somos. Buscamos o outro porque sempre buscamos p nós mesmos e é sempre a mão do outro que nos tira de dentro de nós. E todo carinho dói por provocar uma reação. Nascidos em um dia branco e de chuva. Um dia de paz apesar dos conflitos. Dia de cães e de gatos, de sapos e de vivos, todos buscando alcatéia. Amo um homem que se deita ao meu lado e que é metade de mim. A outra metade. Um dia de sacrifícios em que evitei seus olhos, a fresta em que, distraída me vi e onde me prendi. E por isso lhe dei água e mangas e o afagava, me consolando por sua sorte, que não lamento, como não lamentarei a minha. Sempre comi a carne dos outros sem me sujar e hoje me visto de branco para ver em mim sangue e barro. E porque os vi vivos sei de sua morte, participo dela e os como, para que participem de minha vida. É preciso poder confiar na mão que segura o punhal. E eu, pequena e carente que sou, antes da confiança encontrei a força e a ambiciono. Mais que força, a força da doçura dos olhos em que me vi. A doçura das sementes e da vida, cultivada por sete anos, desde que se principie. De sete em sete. A doçura de se dar e ser para que a força de nosso mundo, tão antigo quanto o barro que tenho nas saias, continue sendo. Que haja em mim a doçura de um coração pulsando, com vida, a fonte de amor que se fez céu e mar, começo e mãe de tudo. Choro por gratidão e respeito pela vida de tudo o que sou feita e fluo, água salgada que sou e serei, mesmo quando doce em direção ao mar. A mar. Amar. Odoiá.

14 maio, 2010

tinha mesmo, em algumas Luas, esse ar Rainha de Copas. Pura Salomé.

Cores para noites sem lua