02 maio, 2008

Enamoramento

Oi, demorei? Um pouco, pelo menos para quem foi privado de sua companhia. Então, vamos descontar o tempo perdido? Quer um cigarro ou divide esse comigo? Prefiro dividir, assim vou descobrir seus segredos. Um cigarro é pouco, tenho muitos. Quais você quer? Os sórdidos. Você já fica logo com o pior né? Quando tinha onze anos, roubei a sineta de avisar o término dos tempos da escola e a escondi na caixa de descarga do banheiro. Alguém achou? Acho que não. Deve ter sido o meu recreio mais demorado. Sentiu medo? Não, amedrontei depois de envelhecer. Mas a espontaneidade salva de ter medo e de saber o porquê do medo. Sou impulsiva, e muito mais antes. Agora já foram inventados os freios e, apesar de introspectiva, sou um redemoinho à procura de um que fazer e com quê entreter os sentidos. Embora introspectivo, sempre fui tranqüilo. Fiquei inquieto e ansioso depois de velho. (Silêncio) Obrigada. Não se agradece esse tipo de coisa. Não, e o que faço? Faça mais! Mas, se agradeço justamente o que é gratuito... (Silêncio) Também me arrisco vez ou outra. (Silêncio) Um cigarro. O meu está acabando (...) É. Eu sempre descubro um lugar precisando de conserto e quero ver logo as coisas se parecendo com alguma coisa ou com ela mesmas. E, no fim, vejo que sempre falta o principal. A fumaça é tão sólida quanto o pensamento e acho que inventei a roda: um macaquinho feliz! E restam 3 cigarros. (Silêncio) Como é isso? Não sei. Mas como é isso aí, poder da mente? Também não sei. Eu vou mexendo nas coisas, provocando, até elas fazerem o que eu to pedindo pra fazerem, normalmente resulta em merda. As mãos guardam bons mistérios. Você não sabe não fazer poesia? Qualquer letra que vem de você me torna cancionada. Suas palavras. (Silêncio) Você tem dinheiro? Só para o cigarro. Dependendo do cigarro, vale muito. Um raro prazer em séries de vinte. Na maioria das vezes, nem para o cigarro. Foi um tanto Monalisa, não acha? Sorriso contido... Foi? Tinha sido. Mas agora é como o pensamento em você, com bastante dentes, todos que tenho. Não está com sono? (...) Todo cativo é como o de Camões? É? Espero que não, deve ser dolorido, uma bola de ferro bem pesada presa aos pés. Você me hipnotizou outra vez e, creia, te respondo com os olhos. Conheço esse brilho de que fala... e penso que são como janelas essas janelas e, por elas, agora que é noite, eu não veria os seus olhos, mas a minha pele é quem me dirá do seu brilho, o brilho que entra pelas minhas janelas e me toca. Com esse brilho que irei adormecer esperando ser por ele de novo atingida. E quem sabe de uma próxima, preparado, eu não seja uma presa tão fácil e me sobrem algumas palavras. E ainda tenho que falar sobre... Realmente. Amanhã. É dia.

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