Era a companhia perfeita para uma tarde de sábado, com cinco ou sessenta anos: gatos e música. O Arnaldo Antunes foi presente, dado por mão querida que compreendeu o significado de um desejar, esse sufocamento de palavras na garganta em busca de ar, essa Felicidade Clandestina que é, não tendo com que escrever, ouvir no silêncio quem diga: compreendo, sei como se sente. E como não ter aos pés de si a presença de tudo o que se foi? Nada, além dos peixes que me nadavam, se esbarrando, se tocando, submersos e levados por esse fluxo silencioso e turbulento, a busca de piracema em plena seca. E, no agora, desejo é encostar em algum conforto e adormecer, sem hora, motivo ou comprimido e seguir viagem, em aconchego de colo, pouco importando o que aconteça no fechar dos olhos. Porque as paisagens já saem pelos ouvidos e, se continua, é vômito na certa. E por isso existe a noite... Porque aqui, no agora, os carros são muitos, as cores são muitas, os cheiros são muitos, o barulho é muito e, inteligente é quem aprende com as galinhas e as codornas o respeito ao silêncio. Não hesitaria em trocar as panelas e quantas garrafas houvessem por aqueles pintinhos e a saudade das corujas e de seus olhos que caçavam. E os gatos. Sem engano, o primeiro foi aquele..., morto no quintal. Ou teria sido o outro, o lembrado em cama de hospital, enquanto esperava a injeção que doía muito e coloria o dever do jardim, trazido em horário de visita... Fazia às pressas o dever, enquanto ouvia a voz da mãe: primeiro a obrigação, depois a devoção. E percebo que o homem é mesmo obrigado à liberdade. Acabar logo e se dedicar ao prazer, ao gostoso guardado pro fim, os detalhes. Ao lado, a gentil enfermeira advertiu: não existe gato verde! E sensata: colore de marrom. Bem sabido, não existem gatos verdes, mas, o que fazer se mesmo em caixas de trinta e seis, ápice de um desejo de posse, não encontraria a cor vista? Verde é o que se aproxima. E qualquer criança saberia, freqüentando reuniões de sem casa, que pobre tem direito a dizer o que pensa, mesmo que tenha que pagar com a voz. E só por isso disse à madrinha, de quem recebeu o filhote de gente, o que sonhava e pedia pra mãe, papai de onde fosse, coelho de que data seja, qualquer estrela que passasse, cadentes como coração, e pras portas que se abriam para as vãs e supérfluas esperanças. E, tanto esperou que cansou. Não teve jeito: foi a última, no definitivo. E como não ter amor? Como não querer bem? Mas a vida é para todos. E disse a ela o que o pai havia feito. Aceitou a dor em dobro porque vivia
LANÇAMENTO: "EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS EM MINAS GERAIS: DESAFIOS E
PROPOSIÇÕES" 17/12/2024 - 20H
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A Editora Escola Cidadã, a Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos
- Coordenação de Minas Gerais, a Revista SCIAS - Direitos Humanos e
Educação e ...
Há um dia
Só me diz quando foi que esbarrou em minha pessoa, pra eu me situar nessa situação.
ResponderExcluirNão sei qual é mais extasiante. Quando você escreve pouco e diz tudo ou quando escreve muito e diz fundo.
ResponderExcluirE nada sobra... só um gosto, verde talvez, de quero mais.
Belíssimo!