13 junho, 2009

Era uma planta. Havia descoberto sentindo a flexibilidade do corpo, tão compatível com o desejo de movimento e o encantamento que o vento e sua música lhe davam. Os muitos braços, erguidos e suspirando abraços, se agitavam ao passar dos pássaros, ao que de si se desprendia, soltava e desfazia e, no permanente e no que não muda, renovados a cada dia, as folhas, fiapos de unhas e madeira e o que é roído pelo tempo e pelo esquecimento. Puxava assunto, por suas sombras, com quem passasse por perto e os homens também diziam, qual os outros mamíferos e as aves e os insetos. Os sonhos eram sempre voar ou cair, das mais distantes alturas, e se saber leve e flutuar. Era algo respirando naquela superfície vasta e mínima em que se reorganizam infindaveis pequenos com suas grandezas. Era assim que sonhava. Às vezes corria e acordava sorrindo, florindo. E o chão que leva ao longe faz o pé pedir proteção e por isso, algumas vezes, desejou vaso. As extremidades tateavam o vazio, o lugar em que foi acabar sendo, além de semente, promessa que se guardava com gosto do que ainda não é sabido. O que sabia, feito semente, era o fim. Tinta e papel.

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