08 junho, 2009

Por mais que espere suas palavras, elas me alcançam desprevenida e me amordaçam. Se cala tudo o que movia e as cores e os cheiros se perdem em meio aos outros e nos idos das coisas. Porque tudo se move, mesmo estando parado e o chão leva os pensamentos nesta velocidade absurda de 365 dias por instante e me canso, dos compromissos, dos comprimidos e do amor. Para quem descreveria estas paisagens feitas por substâncias onírico-orgânicas? As novidades se jogam para dentro dos olhos e talvez descreva, em minúcias, as formas encontradas pelos pés e as frestas que vêem por debaixo das portas. Ou as conversas feitas de coisas não ditas transportadas pelos fios que conversam com os cabelos e que me fazem pensar que só na tranqüilidade da morte é possível escrever. Se apodera de mim, por desejar tanto, um desejo de nada e todo pouco se torna demais, tomando lugar à preguiça de que fui feita, cedendo espaço à realidade que ameaça arrombar a porta que a separa dos sonhos da última noite. A mordaça das suas palavras guarda o medo de que se reveste sua falta de motivos. Medo da morte simplesmente, de que não venha. E a internet, como máquina de fatiar saudades e faltas e de fabricar esquecimentos me encanta. Veículo de transportar suspiros com o tédio que antecede a chegada e, se fujo, é para que não os destrua, deixando apenas o cão. Caminho até a praça e procuro ser com a natureza construída e devidamente podada e controlada enquanto espero que alguma música cante o meu desejo. 18 unhas intactas e agora nada resta. Pensamentos escalam os cabelos, soltos, fios de uma vida que cai pelo caminho. As declarações de amor são feitas de suicídios e do florir de um perfume de efemeridade, do instante em que se cumpre a vida. E nunca fui mais viva do que quando morria em você. Vagando pela cidade os vejo, descontraídos e imóveis, como ela, segurando um livro nas mãos e sem olhar os passantes nos olhos, como eu, atraída por essa sua poesia. Com os fios soltos, os sustos da palavra, acalmados nesses novelos com que se tecem almas.

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Cores para noites sem lua