17 março, 2008

A rodoviária

Os ônibus sempre foram um mistério. Mereciam observação. E era o que fazia, se sentava ao meio-fio e os observava e organizava, em uma taxinomia das distâncias do que levavam. E nisso gastava as tardes. Ali era um amontoado de gente e coisas, pressa, saudade, cansaço. Uma agonia com cheiro de vômito, fritura e dos gases da digestão das máquinas. E muita poeira. E o mundo se tornava grande porque, se não eram as mesmas indo e vindo, eram muitas pessoas só indo, ou só vindo, ou só se perdendo por tantos caminhos, tantos lugares. Alguns tinham domíclio fixo e os via no cinema, na praça, em algumas árvores ou em alguns de seus filhos. Mas se sentava ali, vendo os ônibus estafados e regurgitantes, vomitando destinos e gentes. E via sempre o mesmo, em todas as cores, formas e jeitos. Ares de perdidos. Eles também não eram dali.

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Cores para noites sem lua